Por Guilherme Essvein de Almeida
Oito caixas opacas configuram o edifício. Seis delas, as mais altas, conformam os volumes predominantes da composição. Os fechamentos se dão através de planos em balanço, que ora são de argamassa armada –nos volumes mais altos– e ora são de uma espécie de gradil –nos intermediários–. Nas seis caixas superiores o alinhamento da máscara que recobre os volumes se dá por fora do emaranhado de pilares. Já nas duas inferiores, mais alongadas, o alinhamento é por dentro, se diferenciando em termos de hierarquia.
São quatro linhas de pilares no sentido transversal e dez no longitudinal. Como não há travejamento horizontal, a não ser onde há lajes, os pilares, principalmente das extremidades menores, sofrem os efeitos da flambagem. De tão esbeltos, pela relação entre seção e altura, chegam a parecer desproporcionais. O programa consiste basicamente em áreas destinadas ao processamento e armazenamento de dados. Nos pavimentos superiores se encontram os setores de microfilmagem, processamento, programadores e de arquivos. Já nas barras mais baixas, restaurante e casa de máquinas.
Predomina o caráter horizontal do conjunto, à exceção do ritmo contínuo dos pilares, da disposição das placas de fechamento e da já mencionada circulação vertical. Algumas sutilezas se apresentam, com destaque para o descolamento entre as caixas, enfatizado pelo sombreamento. O predomínio opaco dos volumes confere à edificação certo aspecto de monumentalidade, talvez esperado pela natureza do tema. Neste sentido, a altura, bem como a própria forma da edificação contrasta com as adjacências.
De longe se percebe a imponência dos volumes altos, dispostos simetricamente. O terreno é longilíneo e afastado do centro, em área predominantemente industrial. Para quem passa, normalmente de automóvel, chamam a atenção suas caixas elevadas sobre esbeltos pilares. Aos que se aproximam a pé, mais raro, o pavimento térreo apresenta-se livre em suas laterais e uma dessas caixas, mais baixa, marca a entrada.
Sabe-se que o partido teve como premissa a flexibilização dos espaços através de uma estrutura mista, em concreto e aço. Os diversos pavimentos seriam montados em estrutura metálica na pauta fixa de pilares de concreto armado dispostos longitudinalmente no terreno. O único corpo fixo seria a circulação vertical, centralizada. Pelo corte original percebe-se que foi concebido para ter disposição de pavimentos mais aleatória, não como definitivamente construído: simétrico e escalonado.
Por diversas razões, muitas até hoje desconhecidas, o prédio construído, como dito, se afasta bastante da solução original. Muito embora a construção tenha um nível acima da média no que tange o seu acabamento, não apresenta a caracterização progressista desejada: sua rígida simetria denuncia. O encargo da execução foi destinado a arquitetos locais, que propuseram modificações, principalmente no que diz respeito à técnica construtiva, com o abandono do uso de estrutura metálica. Consequência deste fato é a disposição mais sistemática e rígida dos pavimentos. Neste sentido, algumas condições foram importantes para que a execução fosse diferente do previsto. Primeiramente, a proximidade com o aeroporto não permitiu a construção dos doze pavimentos originais. Também, a vibração proveniente da rodovia adjacente e a natureza pouco resistente do terreno, antigamente um banhado. Esta obra representa, por assim dizer, uma modernidade possível frente às contingências do encargo.
Referências:
Guilherme Essvein de Almeida, João Gallo de Almeida, e Marcos Bueno, Guia de arquitetura moderna em Porto Alegre, EDIPUCRS, 2010.
Alberto Xavier e Ivan Mizoguchi, Arquitetura moderna em Porto Alegre, UFRGS, 1987.
- Ano: 1969
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Fotografias:Marcelo Donadussi